Publicado em 21 de abril – site Tribuna

Luiz Ferradans Mato, gerente geral da Unidade de Operações de Exploração e Produção do Rio Grande do Norte e Ceará, nega que a estatal tenha deixado de investir no RN, e afirma que se a estatal tivesse reduzido o nível de investimento, como chegou a ser dito, a produção de petróleo no estado teria caído de 100 mil para 30 mil barris por dia. Hoje, a produção está em 73 mil. Segundo o geólogo que ocupa cargos gerenciais na Companhia desde 1987 e está na estatal há mais de 30 anos, “se a Petrobras não atuasse de forma firme, as possibilidades de extração de petróleo e gás no estado já teriam se esgotado”. A atividade petrolífera só está sendo mantida, porque a estatal tem investido continuamente em projetos de revitalização dos campos, considerados maduros e com baixa capacidade de produção, explica o executivo. A posição tem sido defendida insistentemente por Ferradans. Nos últimos meses, a companhia foi parar no centro do noticiário, acusada de reduzir os investimentos no estado e provocar uma onda de demissões.

Os poços do RN, com uma capacidade menor de produzir petróleo e gás, ainda justificam grandes investimentos? 
Sim.

Mas a apresentação feita pela Petrobras em audiência pública em Mossoró, diferentemente da realizada em Natal, incluía um slide que mostrava a previsão de queda no investimento da estatal na Bacia Potiguar (RN e CE) entre 2013 e 2017. Por que a redução, se a Petrobras fala em manutenção dos investimentos?
Sim, mas por isso fiz a ressalva durante minha apresentação de que o ciclo de negócios é de quatro anos. No ano passado até março deste ano, era o Plano de Negócios e Gestão 2012-2016 que estava vigente. Normalmente nos últimos anos nós temos uma ‘miopia’ com relação aos novos projetos. Neste ano, temos os dados do PNG 2013-2017. Nós já estamos elaborando o 2014-2018. Com isso, os valores podem ser alterados. Outros projetos são identificados e evidentemente colocados na carteira de projetos.

Mas, considerando o plano 2013-2017, que é o que está em vigor, a tendência é de forte queda…
Não, porque estamos em 2013. O volume de recursos que nós temos está na faixa de R$1,3 bilhão. Em 2014, temos recursos nessa faixa. O 2015, 2016 e 2017, é que vai passar por um processo de revisão. Eu não posso sinalizar um projeto lá na frente ou sinalizar coisas que não tem maturidade.

Ficou muito claro na sua fala que a Petrobras precisa de novas áreas para elevar a produção no estado. A estatal tem interesse em arrematar novos blocos exploratórios no RN no próximo leilão da ANP, agendado para maio?

Esse assunto eu não posso falar, até porque estamos a um mês do leilão. É realmente algo de estratégia das companhias, prefiro não externar minha opinião.

O senhor criticou, de certa maneira, o ‘alto’ custo do licenciamento ambiental no Rio Grande do Norte. A estatal, segundo o senhor, gastou R$ 40 milhões com licenciamento ambiental no RN, enquanto gastou R$ 3 milhões na Bahia, onde as condições de extração são semelhantes. Esse alto custo pode diminuir o ‘apetite’ da companhia por novos blocos no Estado e levar a estatal a prospectar oportunidades em outras regiões?
Não é isso. Os poços quando tem esse declínio da produção pela análise de valores como energia elétrica, o próprio licenciamento do poço de capacidade menor, começa a ficar numa análise econômica, neste sentido. Mas eu não vejo o licenciamento ambiental como entrave. Acredito, porém, que os gestores têm de olhar esse assunto, comparado com outros estados.

O custo com extração de petróleo tem aumentado no RN? 

O custo tem aumentado, em função do próprio aumento de  inflação. 

Mas com relação à ‘maturidade’ dos poços, é mais caro extrair em poços maduros ou em poços recém-descobertos? A estatal gasta mais para extrair petróleo de campos maduros (reservas antigas)?

O que eu diria é que num poço recém-descoberto, numa área nova, o poço produz por quase insurgência natural. Quando você passa para área madura, tem que fazer outros investimentos, projetos de injeção de água, de vapor. São investimentos necessários para aumentar o fator de recuperação. 

Apesar da manutenção dos investimentos, o setor desaqueceu e muitas pessoas foram dispensadas no último ano. A presidente da Petrobras, Graça Foster, assegurou, no entanto, que os postos de trabalho fechados pelas terceirizadas da Petrobras seriam reabertos até maio. Os sindicatos que representam os trabalhadores dizem que o prazo é muito curto. Pouco mais de um mês é suficiente para recontratar os mais de mil petroleiros demitidos?
São as terceirizadas da Petrobras que fazem essa mobilização dos trabalhadores. Então nós temos no nosso planejamento que os contratos sejam assinados agora no final de abril e aí as empresas vão começar a se mobilizar. Nós consideramos que em maio vai ter a reposição dos postos de trabalho.

As demissões foram intensificadas com a quebra de contrato por parte de duas grandes empresas que prestavam serviço à Petrobras no Estado. A estratégia de assinar grandes contratos com poucas empresas, ao invés de assinar contratos menores com muitas empresas, foi equivocada?
Não, não considero isso. Considero que você, em determinados cenários, contrata empresas que podem trazer uma competitividade e estabilizar o sistema no sentido de  ter mais oportunidades em termos de negócios. Por isso se coloca grandes contratos. Mas também fazemos contratações menores.
    
Muito se discute sobre a viabilidade da atividade no Estado. Nossas reservas atuais de petróleo e gás durarão quanto tempo? Dez, 15 anos?
Eu considero que os ciclos surgem a partir de uma necessidade. Isso tem sido observado ao longo dos tempos. Isso ocorre com a Petrobras, que já explorava em terra, foi para água rasa, depois águas profundas e agora águas ultra-profundas. E porque ela está fazendo isso? Porque a matriz energética é atrativa. 

Um projeto bastante esperado no RN e que poderá ajudar a reverter o cenário é a exploração em águas profundas. Quando a Petrobras começa a perfurar os poços no RN?
Já começamos a perfurar poços no Ceará, na Bacia Potiguar.

E no RN?
Na sequência vai ser o RN.

Neste ano?
Não sei vai ser este ano. Não tenho essa informação. Mas a exploração em águas profundas no estado está no nosso planejamento.

Tribuna do Norte