Por Fafá Viana (Diretora do SINDIPETRO-RN e da FUP)

“[…] a presença ativa do machismo compromete negativamente o resultado das lutas pela democracia, pois se alcança, no máximo, uma democracia pela metade. Nesta democracia coxa, ainda que o saldo negativo seja maior para as mulheres, também os homens continuarão a ter sua personalidade amputada.”  Heleieth Saffioti

A luta por liberdade e por igualdade é a base principal da luta dos povos, da luta dos trabalhadores. É a luta em defesa da garantia de acesso aos direitos fundamentais, que somente poderão ser alcançados plenamente com a emancipação social. Aqui se insere a luta da classe trabalhadora e nela se incorporam a luta contra o racismo e contra o machismo, responsável pela perpetuação da opressão histórica sobre as mulheres.

O machismo é um tipo de preconceito, expresso por opiniões e atitudes, que se opõe à igualdade de gêneros, favorecendo o gênero masculino, em detrimento do gênero feminino. O machismo funciona também como freio da luta geral pela emancipação social, uma vez que impede a emancipação plena de metade da população.

Segundo Fábio Palmeira, “a concepção do masculino como sujeito da sexualidade e o feminino como seu objeto é um valor de longa duração da cultura ocidental. Na visão arraigada no patriarcalismo, o masculino é ritualizado como o lugar da ação, da decisão, da chefia da rede de relações… Nota-se certa valorização do gênero masculino em detrimento do gênero feminino, ao passo que o primeiro é o lugar de ação, chefia, enquanto o segundo é posto em desvantagem, frágil.”

O pensamento machista não se resume à idéia de superioridade de um gênero sobre o outro, vai além. O pensamento machista inferioriza o gênero feminino, dando origem a variadas formas de violência, que vão da subjugação afetuosa e cínica ao espancamento e feminicídio. Todas estas práticas são formas perversas de violência, bem expressas no sentimento de Simone de Beauvoir: “O machismo faz com que o mais medíocre dos homens se sinta um semideus diante de uma mulher”.

Embora muitas vozes se levantem contra a violência e contra a opressão sobre as mulheres, o pensamento ou a cultura machista tem atravessado os séculos e gerações e permanece arraigado na sociedade. A omissão e o silêncio diante da toxidade da cultura machista funcionam como licença para sua perpetuação.

No espaço da política o machismo se traduz na violência moral e na tentativa de exclusão do gênero feminino, pois a cultura machista até admite a presença feminina, desde que esta não assuma nem tente exercer protagonismo. Nísia Floresta, no  século passado, identificou e desnudou tal posição: “…por que [os homens] se interessam em nos separar das ciências a que temos tanto direito como eles, senão pelo temor de que partilhemos com eles, ou mesmo os excedamos na administração dos cargos  públicos, que quase sempre tão vergonhosamente desempenham?”

Se você não estranhou a ausência de lideranças femininas nas live’s, protagonizadas apenas por homens; se você não estranhou a ausência de lideranças femininas nos espaços de projeção e de decisão; se você não estranhou a ausência da presença institucional de liderança feminina em fóruns nacionais; olhe mais profundamente os espaços coletivos, porque a democracia não é efetiva sem o protagonismo feminino.

A superação do machismo é tarefa permanente de homens e mulheres, empenhados na construção da nova sociedade. Sejamos pois, vigilantes da liberdade, da democracia e protagonistas na luta pela emancipação plena da sociedade.